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No meu mundo imaginário, eu tocava. Era a melhor forma de fugir de mim mesma. Eu adorava entrar na melodia e ficar navegando por horas naqueles sons que sempre me inspiravam. Eu escrevia e tocava. O órgão, era ele o responsável por manter meu desejo de continuar. Na verdade, fazia tudo isso pela minha vovó. Eu adorava tocar pra ela. E ela adorava me ouvir tocar. Não havia forma melhor de fazê-la feliz que tocar. Ela cantarolava todas as músicas, por mais que ela não conhecesse.  Ela inventava os sons e os sons inventavam a melodia. E era essa a forma de falarmos que nos amávamos com toda nossa alma. Eu tocava pra ela e tocava pra fugir de mim. E eu gostava de ouvir as notas musicais fazendo da música uma arte. E na inspiração, novas claves de sol se   formavam e a melodia flutuava por ela mesma. Eu não queria mais fugir. E no final, a música só me aproximava. E era assim, minha família musical me fez melhor com esse órgão, que passou a ser pa

A casa mágica de vovó e de vovô

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Jabuticabeira, cheiro de casa de vovó, doces de goiaba feitos com as goiabas que vovó mandava vovô pegar do pé que havia na casa, arvores de limão, ameixas. Subir no pé e ficar horas contemplando a paz de estar lá. Férias, fins de semana. Assim foi minha infância. Tive a sorte de ter dois avós que representavam a figura perfeita de casa de vovó. Estavam sempre lá, bonzinhos, carinhosos, acolhendo as dores da existência e ajudando a me tornar quem eu pretendia ser. Essas lembranças são minhas, mas compartilhadas com todos os outros atores que participaram das cenas da casa da vovó Martha e do vovô Elias. Ainda sinto o cheiro, ouço as vozes, as cenas são tão reais na minha memória. Lembro dos abraços, do sorriso que vovó dava ao me ver chegando no portão. E eu que duvidava que existiam anjos na terra. Eles eram. Agora que os dois se foram, reluto em não perder as lembranças, não quero que elas fiquem guardadas no porão da minha consciência. Elas precisam viver p

Agora existem como parte...

Pois quero falar das raivas, dos medos, das vontades incontroláveis, forças que paralisam, resignação. Por anos escondi essas palavras num fundo de um cofre interno, chaves perdidas, ficaram lá por muito tempo, até dizer, preciso sair. Por que ter medo de falar que já senti raiva, medo, resignação, tristeza? ou dor? Esses sentimentos inconscientes vao se tornando parte, a medida que me conheço mais. E não fujo mais deles, como antes fazia. Agora olho, respiro, escuto, analizo, resplandeço. Não mais critico. Deixo-os vir. Eles, às vezes, chegam devagarzinho, tomam conta. Outras vezes, chegam como tempestade, varrem o chão. Mas a diferença? É que agora os aceito como parte de mim. De tanto que escondi, eles cresceram. Agora que os aceito, eles são pequenos, frágeis, desmancham diante de tanta coragem. Agora são eles que fogem, porque já não encontram forma de existirem ou ficarem. Não se encaixam mais em nenhum lugar, mas estão sempre livres para chegarem. Ou ficarem. Mas semp

Melhor falar de Esperança...

Não vou mais falar de medos, porque me importo pouco com eles. Eles massacram qualquer esperança de que a vida é melhor do que já é. Fazem-nos acreditar que temos muito. Preenchem-nos com vazios, poucos retratos coloridos. Arco íris de uma cor só. Melhor falar de esperança, asas da liberdade. Elas, embora frágeis, acolhem o céu. Voam alto num infindável azul de sonhos. A esperança preenche. O medo esvazia. Quando falo de esperança, não só vôo, mas levo outros comigo.

Desejos internos de mim...

Tenho me sentido confusa. Uma mistura de vontade, desejos e tensão. Tenho me cobrado muito a sentir algo que não sei sentir. Me forço a quebrar barreiras, vencer traumas e não postergar confrontos. Quero coisas fáceis, odeio o díficil. Me sinto nua, mas com coragem. Como se o mundo fosse vencer todas as forças cruéis da existência terrena. E eu somente assistir. E vão- se os anjos, decorados de cintilante, espalhando esperança onde não mais existe. E ficam- se as memórias, as saudades, as vontades, desejos internos de mim . E por falar em desejos, aqueles que sempre sonhei. Me desfigurar por completo, ser eu mesma quando assim quiser e permitir. Sem medos, sem armas, sem máscaras. De frente para o espelho olhar a verdadeira alma e nunca mais me enganar ou fingir. Posso ser várias. O que me importa? O que te importa? Posso transcender, ser mulher ou menina, ter medo do escuro ou inventar a luz. Não minto, sou forte. Não vim para enganar nem mentir. Não tenha pena, a soli

Quando lia contos de fadas...

“Quando lia contos de fadas, eu imaginava que aquelas coisas nunca aconteciam, e agora cá estou no meio de um! Deveria haver um livro escrito sobre mim, ah isso deveria! E quando for grande, vou escrever um.” Alice no país das maravilhas (Lewis Carroll) Ás vezes, achamos que uma crítica pode paralisar uma ação. Mas muitas vezes, a crítica pode ser um impulso para a superação. Essa história começou em 1994, quando eu descobri que as palavras não eram palavras e sim, sentimentos. Tinha 14 anos, prestes a sair do ensino fundamental e ir para o ensino médio e nessa época, assim como hoje, adorava escrever. Escrevia sobre tudo. Quando não podia falar, por ter sido uma garota tímida na infância, escrevia. Meus dois hobbies sempre foram a escrita e a música. Tocava e escrevia. Tudo aquilo que poderia ficar no silêncio de mim mesma e do mundo. E só sentir. Assim são as palavras pra mim. Nessa época tinha uma grande amiga, que também adorava escrever. E tínhamos uma professora, carran

La tequila mexicana

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Texto escrito em 18 de abril de 2005, voltando do Mexico city. Ai vão as novidades do Mexico....Y viva los Mariachis, las tequilas...los tacos y los guzanos (quem quiser saber o que é isso, me perguntem...eu nao provei, mas o meu marido sim. Argh!). Chegamos na terça feira, hotel 5 estrelas. Piscina, sala de ginastica. Homens de negócio circulando no hall 24 horas. Mexico, cidade urbana misturando com a imagem dos Mariachis. Pais de terceiro mundo com cara de primeiro. Primeira noite...comida...Tacos. e tequila....sem alcool para mim, ja que estou com gastritis. Segundo dia, city tour. Marido trabalhando. Impressionante a mistura de centro da cidade com resquicios da cultura azteca. Ruinas das construções e da história de uma civilização de mais de 2.000 anos. Palacio do Governo pintando com as obras de arte de Diego Rivera representando seu eterno amor por Frida Kahlo e as armaguras de um socialismo revoltante. Comunismo. Raiva, opressão, luta de classes. Toda uma